No dia 15 de dezembro, a SIS concluiu uma importante etapa de um dos seus mais importantes projetos: o lançamento do site do Ranking da Atuação Socioambiental de instituições financeiras (RASA), junto com a publicação dos resultados da avaliação que foi feita de dez grandes bancos brasileiros: os 7 maiores em participação no mercado de crédito (Banco do Brasil, Caixa, Itaú, BRADESCO, Santander, BTG Pactual e Safra), os 2 maiores bancos cooperativos (SICOOB e SICREDI) e o holandês Rabobank, que é um líder global na agenda de Sustentabilidade, ao menos no universo dos grandes bancos, e que no Brasil opera tão somente com o agronegócio.
A divulgação foi feita numa live que está disponível na página da SIS no YouTube e repercutiu na imprensa já no mesmo dia, com uma matéria exclusiva publicada no Valor Econômico e outra no blog “Um só Planeta”, de o Globo.
Luciane Moessa, Diretora Executiva e Técnica da SIS, comentou os resultados obtidos pelos bancos avaliados, que deixaram bastante a desejar, e apontou as principais lacunas verificadas: a) a cobertura temática das políticas é insuficiente, com questões socioambientais essenciais sendo ignoradas pelas políticas dos bancos; b) no tema das políticas específicas para setores econômicos, o setor bancário brasileiro ainda engatinha (poucos bancos possuem ou publicam), com destaque para o BTG Pactual, que é exceção honrosa nessa matéria; c) as bases de dados socioambientais consultadas são insuficientes ou até ausentes (mesmo para os temas enunciados nas próprias políticas de cada banco, como desmatamento e trabalho infantil) e nunca cobrem todas as transações relevantes, pois os bancos levam em conta o valor da transação financeira ou o valor do faturamento da empresa, e não o grau de risco socioambiental do setor em que ela atua; d) bancos divulgam pouquíssimas informações sobre composição do portfólio (setor econômico/localização das atividades/ perfil de risco socioambiental das empresas), com a exceção do BRADESCO, que ao menos já divulga a composição setorial, tanto para crédito quanto para investimentos; e) para produtos financeiros com impacto ambiental ou social positivo, quase não há informações sobre percentual da carteira e, quando há, percebe-se que o percentual ainda é ínfimo; f) sobre o tema de governança da sustentabilidade, informações-chave (como a dimensão das equipes de sustentabilidade em comparação com as áreas-fim dos bancos, a integração de fatores ASG na remuneração e com que peso, dados sobre treinamentos em matéria ASG para equipes que atuam na matéria) não são divulgadas. Ela também salientou que há muito menos informações para investimentos do que para crédito (citando como exemplos os temas frequência e abrangência do monitoramento de riscos socioambientais, ações de mitigação de riscos, relevância dos temas ASG no processo decisório e também a composição do portfólio).
Luciane também explicou que a avaliação das informações sobre crédito recebeu o dobro do peso das informações sobre investimentos, já que o mercado de crédito bancário no Brasil é mais de duas vezes maior do que o mercado de capitais. Ela explicou que todos os resultados por banco, os rankings por tema enfocado na Metodologia e as fontes de informação consultadas estão disponíveis no site do RASA. Veja a seguir os resultados gerais do RASA para crédito, investimentos e ambos.
Ela comentou também que espera grande progresso na transparência de dados divulgados pelos bancos para o próximo ano, como efeito da nova regulação do Banco Central de 2021, que trouxe requisitos mínimos para relatórios de sustentabilidade. Veja os slides utilizados por ela aqui.
Foram debatedores Gustavo Pinheiro, gerente do portfólio de Economia de Baixo Carbono do Instituto Clima e Sociedade, Glaucia Terreo, que é membro do Conselho Estratégico da SIS e gerente da Walk4Good e foi head da Global Reporting Initiative (GRI) no Brasil por 15 anos, e por fim Debora Batista, que é Analista Sênior do WWF Brasil, onde trabalha com Finanças Livres de Desmatamento. Gustavo ressaltou como impressiona a baixa transparência dos bancos com relação a informações relevantes na gestão de riscos e oportunidades socioambientais. Ele lembra que provavelmente os bancos adotam mais iniciativas do que efetivamente divulgam, mas que caberia a eles publicar essas informações. Outro ponto enfatizado por ele foi o fato de os bancos, que desempenham um serviço de interesse público que precisa ser devidamente autorizado pelo regulador bancário, não consultarem todas as bases de dados públicas disponíveis com informações socioambientais, fato que enseja uma omissão bastante relevante, que pode desencadear a sua responsabilização. Glaucia sublinhou a importância do conceito de materialidade (ou relevância) nas informações divulgadas por organizações em relatórios de sustentabilidade, esclarecendo que as Normas 2021 da GRI aumentaram as exigências de transparência uma vez que os documentos terão apenas dois níveis, referenciado ou relatório GRI, abolindo o nível básico ou essencial pelo qual se divulgava apenas um conjunto mínimo de informações. Por exemplo, a diferença para itens de governança corporativa era gritante – 19 itens para o padrão abrangente e 1 item para o padrão essencial, o que deixava muita informação avaliada pelo RASA fora do relato. Já Debora enfatizou a importância de bancos brasileiros atuarem de forma mais firme no combate ao desmatamento e adotarem um conceito de “dupla materialidade”, ou seja, levarem em conta não apenas os riscos financeiros, mas também os riscos ambientais. Ela lembrou que a agenda da biodiversidade tende a se tornar mainstream no mercado financeiro global, ao lado da agenda climática, sobretudo após a criação da TNFD e com as novas metas (para a próxima década) que se esperam sejam acordadas na COP 15 da Convenção Global da Biodiversidade, que acontece nesse momento em Montreal. Ela apresentou as ferramentas que o WWF e outras organizações desenvolveram e disponibilizam para o setor financeiro e corporações que adquirem commodities agrícolas ligadas ao desmatamento (como carne bovina e soja) nessa matéria, como a Accountability Framework Initiative. Veja os slides utilizados por ela aqui.
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