O evento aconteceu nos dias 3 e 4 de abril e Luciane Moessa, Diretora Executiva e Técnica da SIS, foi expositora no terceiro painel do primeiro dia, mediado por Ma Jun, Presidente do Institute Finance and Sustainability (IFS), baseado em Beijing, que tratou do papel das regulações e padrões em matéria de Finanças Sustentáveis.
A CASI foi lançada durante a COP 28 do Clima e tem o objetivo de capacitar 100 mil pessoas até 2030, tanto online quanto presencialmente, sendo que o primeiro evento presencial ocorreu em São Paulo. O evento foi coorganizado pelo IFS e pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), contando também com o apoio da gestora de ativos JGP.
Na abertura, a Diretora Executiva do iCS, Maria Netto, salientou a importância de financiar a nova economia, com foco em mitigação e adaptação às mudanças climáticas, tanto com recursos públicos quanto privados, domésticos ou da cooperação internacional. Um exemplo-chave que ela mencionou para o Brasil é o desenvolvimento de biocombustíveis de 3a. geração, além da agricultura de baixo carbono. Já José Pugas, da JGP, citou a famosa frase de Francis Bacon, de que “o dinheiro é um excelente servo, mas um péssimo mestre”, daí a importância do setor financeiro ser colocado a serviço de interesses coletivos.
Também participaram da cerimônia de abertura diversas autoridades, como Isabella Damaso Maia, do Banco Central do Brasil (BCB), que falou online e fez um retrospecto das iniciativas regulatórias do BCB nessa matéria, desde 2008 no crédito rural, salientando o crescente reconhecimento de que eventos climáticos ameaçam a estabilidade do sistema financeiro. Desde 2020, lembrou ela, a Sustentabilidade é um dos pilares do Plano Estratégico do BCB e antes disso o tema já havia sido incluído na supervisão das instituições financeiras. O BCB tem publicado relatórios de sustentabilidade anuais desde 2022, sendo membro da Network for Greening the Financial System (NGFS) desde 2020– a NGFS é uma rede global de bancos centrais e reguladores bancários que conta com mais de 120 membros e que também conta com um eixo de trabalho sobre ações de capacitação.
Wang Shin, Diretor de Pesquisa do Banco Popular da China (BPC – o Banco Central chinês), também participou online, e destacou algumas iniciativas chinesas nesse campo, como a publicação do “China Green Bonds Catalogue” em 2015, e sua participação na criação de uma Common Ground Taxonomy (CGT), no âmbito da International Platform on Sustainable Finance, em parceria com a União Europeia. Outra iniciativa importante destacada por ele foi a publicação pelo BPC, em 2021, das “Guidelines on Environmental Information Disclosures for Financial Institutions”.
Matias Rebello Cardomingo, Coordenador-Geral de Análise de Impacto Social e Ambiental na Secretaria de Políticas Econômicas do Ministério da Fazenda, fez um retrospecto histórico lembrando que a exploração do trabalho escravo está na base da criação do sistema financeiro no Brasil, o que faz com que o país tenha gigantescos desafios estruturais. O Plano de Transformação Ecológica, do atual governo, segundo ele, está estruturado sobre três eixos: aumento da produtividade e elevação da renda; justiça climática e ambiental; redução de desigualdades em todas as esferas. No Brasil, 3,6% do PIB são necessários para a transformação ecológica (anualmente), mas o orçamento federal só dispõe de 0,6% do PIB, por isso o capital privado é essencial.
Ele salientou também que a reforma tributária de 2023 incorporou aspectos ambientais e que a publicação do Arcabouço de títulos soberanos sustentáveis já gerou a primeira emissão em outubro. Outra iniciativa importante no âmbito do plano, a Taxonomia Brasileira Sustentável, incorpora aspectos raciais na agenda de desigualdades sociais (para além dos aspectos de gênero).
Já Carlos André, Presidente da ANBIMA, e CEO da Santander Asset Management desde 2021, tendo trabalhado por 37 anos no Banco do Brasil, ressaltou que investimentos são necessários em adaptação às mudanças climáticas, restauração de ecossistemas, eficiência energética e energias renováveis. Entretanto, mencionou a última pesquisa da ANBIMA sobre o grau de maturidade no mercado de capitais sobre sustentabilidade, que revelou que 70% dos associados ainda não têm estratégia na matéria. R$ 8,6 trilhões é o volume total de ativos em fundos de investimentos no Brasil – apenas R$ 12,2 bilhões (menos de 0,15%) desses ativos tem características ASG. Além disso, o mercado brasileiro tem algumas limitações estruturais, pois fundos de ações representam apenas 7% dos ativos dos fundos de investimentos brasileiros, sendo que há 2 anos não há um IPO no Brasil.
Ele defende que um aperfeiçoamento nos modelos de mensuração de riscos e a construção de uma Taxonomia são medidas necessárias e informou que o tema Sustentabilidade foi incluído em todas as certificações da ANBIMA, que também já publicou um Guia de Oferta de Títulos ESG.
Fábio Coelho, Presidente da AMEC, lembrou que os ativos geridos pelos fundos de pensão representam 13% do PIB brasileiro, enquanto que os ativos geridos pelas seguradoras e entidades de previdência abertas representam 14%-15% do PIB. Já os fundos de investimento representam mais de 80% do PIB do país. Precisamos de incentivos regulatórios, melhor divulgação de informações sobre sustentabilidade, autorregulações, inovações tecnológicas e mudanças culturais para que a transição para uma economia de baixo carbono aconteça. As mudanças culturais ainda são claramente insuficientes. A agenda ASG demanda estratégia, coordenação e capacitação. A visão de horizonte temporal precisa ser alargada.
O primeiro painel abordou “Mercados globais de finanças sustentáveis” e foi moderado por Maria Netto. Ela salientou os recentes avanços no Brasil em padrões para divulgação ASG, mas lembrou que a América Latina tem percentual muito pequeno do mercado global de títulos ASG e perguntou aos expositores como dar escala ao capital privado na agenda ASG. Também enfatizou a necessidade de criar mais transparência no mercado sobre os impactos alcançados por esses títulos. Para ela, os Sustainability-linked Bonds (SLBs) são o instrumento adequado para o financiamento da transição e é preciso também incorporar critérios de resiliência climática nos investimentos em infraestrutura. Além disso, lembrou que o IPCC afirma que 30% das soluções climáticas devem ser soluções baseadas na natureza. Por outro lado, sublinhou que, no mercado de créditos de carbono, deve-se exigir integridade não só dos emissores, mas também dos compradores.
Paula Peirão, da UNEP-FI, lembrou que precisamos de 4 a 6 trilhões de dólares por ano para a transição sustentável e que as Taxonomias podem ajudar a redirecionar fluxos financeiros. Ela defendeu a necessidade de foco em resiliência e transição justa e de incorporar fatores sociais nas Taxonomias. Ela ressaltou que o estoque de ESG bonds em 2023 ultrapassou 4 trilhões de dólares, sendo que 60% são green bonds e 16% são social bonds – um percentual menor são SLBs e transition bonds. No setor público, o Chile tem sido muito ativo na emissão de títulos verdes soberanos.
Segundo a Climate Policy Initiative (CPI), em 2023 ultrapassamos USD 1 trilhão (incluindo MDBs) em financiamento climático, sendo que a maioria das emissões foca em mitigação das mudanças climáticas, não em adaptação, sobretudo nos setores de Energia e de Transportes; já na América Latina, o setor de Agropecuária tem uma participação muito mais significativa. A América Latina tem um potencial imenso em soluções climáticas baseadas na natureza. “Nature finance” começa a aparecer e a conexão entre clima e natureza tem um papel-chave.
Gustavo Pimentel, da NINT/ERM, salientou que o primeiro evento sobre Green Bonds no Brasil aconteceu no Santander em dezembro de 2014. Em 2015, ocorreu a primeira emissão de empresa brasileira (Brazil Foods) para o mercado internacional, e em 2016 a primeira emissão em reais (CRA verde da Suzano). As emissões acumuladas por empresas brasileiras desde 2015 superam R$ 400 bilhões, 380 operações ao todo, sendo que o ano com mais emissões foi 2021 (94). O Brasil tem um mercado doméstico pujante de títulos ASG, que aumentou todos os anos (houve flutuação apenas nas emissões para o mercado externo), sendo que a maior parte delas é de empresas de economia real. Tem havido crescimento dos SLBs – nesse caso, os KPIs devem ser específicos não só do setor, mas também da empresa; participação proporcional do Brasil nesse mercado é muito grande, mas está havendo muito questionamento em nível global dos SLBs. Em outros mercados, há participação muito maior de instituições financeiras (IFs) e de emissões de títulos soberanos nas emissões. Quando IFs emitem, abre-se possibilidade de incluir PMEs (securitização de créditos) e também muita possibilidade de inovação.
Nicholas Pfaff, Head de Finanças Sustentáveis do ICMA, ressaltou que, em alguns mercados, o percentual de títulos ASG já chega a 20% do mercado de renda fixa, sendo que investidores têm uma grande preferência por títulos verdes. Há necessidade de abordar os riscos de greenwashing, mas ele considera que o percentual de operações controversas é pequeno. Ele enfatizou ainda o papel fundamental das “Finanças de Transição” (resultados intermediários que viabilizem a melhoria de desempenho de setores com altas emissões GEE) – houve desenvolvimentos interessantes recentes na Ásia, em especial no Japão, havendo necessidade de KPIs consistentes e metas com ambição nos Planos de Transição. Também é preciso melhorar a qualidade dos relatos e verificação dos títulos ASG e também das definições, com “níveis de verde”.
Marcelo Billi, Head de ASG da ANBIMA, lembrou que, há dez anos, discutia-se a necessidade de esticar o horizonte temporal do mercado de capitais e construir uma base mínima de emissores. Hoje, é preciso ampliar o leque de emissores de títulos e valores mobiliários, ao mesmo tempo que é preciso incorporar a agenda ASG. A integração de fatores ASG em alguma medida entre os gestores de ativos por enquanto só acontece em 30% do mercado (grandes players + players nicho). Existe porém grande interesse na discussão da agenda ASG. O Guia da ANBIMA referido pelo Presidente da ANBIMA é inspirado em regras da ICMA e a ANBIMA pretende transformá-lo em autorregulação. Ele entende que é preciso falar também das oportunidades de investimento climático no mercado financeiro (não basta só falar de gestão de riscos).Entre os desafios, ele pontuou que o setor agrícola ainda está muito distante do mercado de capitais; que é preciso incluir PMEs e que as cooperativas de crédito ainda participam muito pouco do mercado de capitais.
O segundo painel abordou “Instrumentos financeiros sustentáveis” e teve como mediador Rozani Osman, da Malásia. Ele iniciou ressaltando um obstáculo estrutural: alguns fundos de pensão têm valor mínimo para compra de títulos de renda fixa muito superior aos “tickets” de títulos verdes.
Hsia Hua Sheng, Vice-Presidente do Bank of China no Brasil, iniciou explicando que o Banco da China é o 4º. maior banco da China (o valor total dos ativos equivale a todo o mercado bancário brasileiro). No Brasil, atua principalmente com trade finance, tendo como maiores clientes empresas brasileiras que exportam pra China e empresas chinesas que investem em empresas brasileiras. A PETROBRAS, por exemplo, emitiu green bonds em 2023 e Banco da China comprou boa parte. A estratégia do banco é apoiar empresas na transição pra economia de baixo carbono. Além disso, ele está financiando a eletrificação da frota de ônibus da cidade de São Paulo. Bancos estrangeiros (com exceção do Santander) têm pouca presença no varejo no Brasil, lembra ele.
Tratando de mercado de capitais, ele explicou que o valor total dos títulos de renda fixa na China é igual a 20 trilhões de dólares. Ele chamou atenção para os “panda bonds”, que são emitidos para venda no mercado interno chinês – podem ser emitidos por governos, IFs, empresas não-financeiras e agências multilaterais. O total desse mercado em 2023 foi de 17 bilhões de dólares, sendo que o Banco da China é o maior coordenador de emissão de panda bonds na China. Foram emissores recentes de “panda bonds sustentáveis”: Egito, Hungria e Mercedes Benz. A taxa de juros é de 2,6% ao ano; e o prazo é de no mínimo 5 anos, com facilidade de refinanciamento.
Já Fernanda Camargo, da Wright Capital, explicou que esse é um family office que trabalha com investimentos de impacto há mais de 10 anos. Para dar conta da transição climática, ela explicou que são necessários investimentos em restauração florestal e em agricultura regenerativa (nature-based solutions): projetos que necessitam de muita assistência técnica têm pouca liquidez e não têm escala–é preciso “capital paciente”. Além disso, é preciso usar instrumentos de blended finance (envolvimento de IFDs e/ou MDBs para fornecer assistência técnica e assumir maior risco), mas o primeiro fundo dessa natureza, do BNDES, ainda está sendo construído.
Veronica Valentini, Gerente de Inovação Sustentável do Santander, ressaltou que a comunicação sobre sustentabilidade é um desafio, por exemplo, no setor agrícola e que são necessários incentivos econômicos para financiar a transição. A falta de histórico de rentabilidade dos projetos é um desafio, e é preciso construir parâmetros objetivos para os investimentos “verdes”. Os investidores que aceitam o nível de risco/escala dos investimentos em soluções baseadas na natureza são, por exemplo, agências multilaterais. As soluções desse tipo precisam ser muito customizadas.
Paula Carvalho, Diretora de Sustentabilidade da Fitch, explicou que “Sustainable Fitch” é uma divisão da Fitch Ratings, que fornece “Second party opinions” em emissão de títulos ASG (inclusive SLBs), além de monitoramento do uso dos recursos. Ela ressaltou um ponto-chave no tema: mais de 75% das emissões desses títulos se destina a refinanciamentos, e não a novos projetos. Na América Latina, 20 a 30% das emissões de títulos de renda fixa são de títulos ASG, sendo que títulos sustentáveis e sociais têm um peso muito maior do que em outras regiões. SLBs também têm um peso também maior (cerca de 30% das emissões). As emissões de títulos soberanos vinculados à sustentabilidade do Chile e do Uruguai são inovações que se destacam. A emissão de títulos de transição ainda é muito modesta globalmente, sendo que taxonomias de transição devem impulsionar esse mercado. A definição de transição pode variar de acordo com peculiaridades regionais. Na América Latina, existe um olhar para a transição justa. As empresas precisam ter planos de transição robustos que embasem essas emissões.
O terceiro painel do dia abordou “Padrões regulatórios e voluntários” em Finanças Sustentáveis. Ma Jun, o mediador, salientou que na China há uma plataforma que inclui projetos verdes já verificados pelo governo e os coloca à disposição de bancos e investidores interessados em financiá-los. A primeira taxonomia chinesa, para o crédito, é de 2011/2012 e a de green bonds veio a seguir (2015 e 2021); para tanto, houve o envolvimento de vários Ministérios, além da coordenação entre iniciativas públicas e envolvimento do setor privado. Ele também disse que houve subsídios para atividades de verificação, além do uso de tecnologias digitais para que operações de crédito e produtos de investimentos verdes sejam rotulados automaticamente. Por fim, ele defendeu a adoção da “Common Ground Taxonomy”, elaborada pela União Europeia e China.
Sheila Alves, da Climate Bonds Initiative (CBI), defendeu a importância da interoperabilidade das Taxonomias.
Luciane Moessa, da associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS), defendeu que ainda é muito cedo para falar em padronização de Taxonomias, já que a Taxonomia da União Europeia não produziu impactos no redirecionamento da economia rumo à sustentabilidade, e tem diversas limitações estruturais que impedem isso, salientando-se: a) a separação entre objetivos ambientais, o que eleva custos de transação e impede que sejam consideradas sinergias – por exemplo, um projeto de conservação/restauração de manguezais tem benefícios na mitigação das mudanças climáticas (mangues capturam 4 vezes mais carbono do que florestas), adaptação das mudanças climáticas (eles reduzem em 50% o impacto de eventos climáticos extremos nas zonas litorâneas), biodiversidade aquática (eles desempenham papel fundamental em ecossistemas marinhos), prevenção e combate à poluição; entretanto, na Taxonomia da UE esses 4 objetivos são separados, sendo impossível agregá-los e, além disso, não faz sentido escolher um em detrimento dos demais; b) necessidade de incluir atividades e projetos com impactos negativos, pois não é realista falar em transição enquanto continuarmos financiando atividades que causam danos; c) necessidade de mensurar de maneira objetiva e integrada o conjunto de impactos negativos e positivos em matéria climática, ambiental e social, o que se faz mediante a definição de indicadores-chave de desempenho e seu respectivo peso para cada atividade econômica, bem como de considerar a localização das atividades. Ela esclareceu que a SIS está realizando esse mapeamento para 15 setores econômicos, sendo que os primeiros 5 (agricultura, pecuária, extrativismo florestal, mineração e restauração de ecossistemas marinhos) serão publicados para colher feedback de partes interessadas ainda nesse mês de abril.
Nathalie Vidual, Superintendente de Orientação a Investidores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ressaltou os avanços recentes na regulação de mercado de capitais no Brasil, com a adoção dos padrões S1 e S2 do IFRS para relato de sustentabilidade das empresas listadas em Bolsas de Valores de forma obrigatória a partir de 2027 (ano-base 2026).
Ben Weissman, da Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ), sublinhou que Planos de Transição corporativos e de instituições financeiras são essenciais para promover a resiliência às mudanças climáticas e que a GFANZ está preparada para apoiar empresas e IFs nisso.
No dia 4 de abril, a abertura contou com Marcos Athias Neto, Diretor do PNUD, que participou online, ressaltou alguns pontos-chave, como o fato de que países em desenvolvimento pagam 2,3 vezes mais em juros da dívida pública do que gastam em assistência social; América Latina é berço de riquíssima biodiversidade e o Brasil necessita de um terço das necessidades de financiamento climático da região. Para ele, o desenvolvimento de Planos de Transição é uma das chaves para destravar os investimentos necessários. Também é importante enfrentar os desafios da falta de coordenação. O PNUD contribui através dos TAPs – Technical Assistance Action Plans. PNUD está no Secretariado do Sustainable Finance Working Group do G20 e é o host do FC4S (Financial Centers for Sustainability), que reúne mais de 40 centros financeiros globalmente.
Em seguida, Jorge Arbache, Vice-Presidente para o Setor Privado da Corporación Andina de Fomento (CAF), iniciou explicando que a CAF é um banco multilateral de desenvolvimento que abrange 21 países da América Latina, mais Portugal e Espanha, sendo que40% dos financiamentos da CAF em 2023 foram voltados a negócios verdes.
Ele destacou que a América Latina tem fontes de energias renováveis abundantes e baratas que poderiam financiar a descarbonização da indústria e da mineração. Entretanto, medidas protecionistas tem sido um obstáculo pra que esse potencial seja explorado, deixando infelizmente de lado as diversas vantagens competitivas da região. Os custos de capital no Brasil são muito mais altos do que nos EUA e Europa. Faltam iniciativas como o Inflation Reduction Act (IRA) e o European Green Deal que tornem a descarbonização atrativa para o mercado. Existe um potencial imenso para o “Aço verde” e inúmeros outros setores de uso intensivo de energia (como a indústria do alumínio, a indústria do vidro, a indústria automobilística). Entretanto, interesses “nacionais”/corporativos defendidos de forma isolada e afastada do interesse global comum de dar conta dos desafios climáticos têm impedido que exista esse avanço.
É necessário trabalhar do lado da demanda por financiamento verde no setor empresarial. Falta visão estratégica. Além disso, para ele, a agenda de eficiência não tem sido devidamente utilizada para acelerar a descarbonização. Existe uma necessidade imensa de capacitação do capital humano no setor financeiro na agenda climática e dos ODS. É preciso usar mais Project Finance e outros instrumentos necessários para destravar essa agenda.
É fundamental para agências multilaterais de financiamento na América Latina, cujo volume de recursos é claramente insuficiente, priorizar projetos de alto impacto e que têm potencial para mobilizar recursos privados, além de projetos com alto “poder demonstrativo”. A CAF tem priorizado projetos que olhem para a cadeia de valor como um todo. Uma estratégia que costuma ser utilizada é usar “empresas âncora” e apoiar bancos nacionais que têm mais capilaridade no território nacional.
Ma Jun, Presidente do IFS, comentou que definir “Agricultura sustentável” é um desafio, mas o Ministério da Agricultura/EMBRAPA desenvolveu uma proposta de certificação verde que pode resolver esse problema. Outro desafio envolve a criação de incentivos econômicos para dar escala à agricultura sustentável. A China oferece juros mais baixos. Outra fonte importante de “capital barato” são as agências multilaterais de desenvolvimento. Blended finance também são uma resposta. Outra solução é o mercado voluntário de créditos de carbono. É preciso criar também soluções para financiamento da cadeia de fornecedores – o caminho pode ser usar as classificações de risco das clientes dos produtores rurais para conceder crédito a eles para tornar sua produção mais sustentável.
O quarto painel abordou “Relatos de sustentabilidade: desafios, benefícios e soluções”. A mediadora foi Rebeca Lima, Diretora Executiva do CDP para a América Latina. Ela salientou que, nas últimas décadas, houve uma grande sofisticação nos indicadores para relato de sustentabilidade e também ampliação no número de empresas que relatam. Os questionários do CDP já estão alinhados aos padrões S1 e S2 do IFRS, lançados em 2023.
Arturo Rodriguez, do IFRS América Latina, informou que essa é uma entidade sem fins lucrativos que tem duas décadas de existência e que trabalha com padrões contábeis para corporações. O IFRS criou o ISSB para tratar de aspectos de sustentabilidade, tendo publicado em 2023 o S1 – padrões gerais (houve muita inspiração no Relato Integrado); e o S2 – padrões climáticos – (TCFD + SASB). Nesse momento, Austrália, Canadá, Reino Unido, Nigéria, África do Sul, Índia e Singapura estão considerando adotar os padrões S1 e S2 para relato de sustentabilidade pela via regulatória. Na América Latina, a Costa Rica está considerando adotar. O IFRS tem alguns recursos disponíveis para empresas que pretendem adotar voluntariamente o padrão: comparação entre S2, TCFD, SASB, Relato Integrado e GRI.O que vem por aí em termos de Relato de Sustentabilidade no ISSB? Ele relatou que, ano passado, quatro temas foram colocados em consulta: Biodiversidade, Capital Humano, Direitos Humanos e Interconectividade entre as informações. Ainda esse mês, haverá uma decisão sobre qual será o próximo tema.
Linda Murasawa, da Fractal, tem uma experiência de 23 anos com Finanças Sustentáveis no ABN Amro/Santander. Ela defendeu a necessidade de cruzar informações financeiras com informações sobre sustentabilidade – por exemplo, investimentos em CAPEX com finalidades ASG. A gestão dos riscos climáticos deve estar refletida no balanço. Para ela, é necessária uma visão que integre riscos e oportunidades climáticas.
A credibilidade das informações é um ponto-chave, para evitar greenwashing. A demanda de capacitação é imensa, tanto no setor financeiro quanto no setor empresarial, além das empresas de auditoria.
O acesso a bases de dados é outra questão crítica. A plataforma Adapta (MCTI e INPE) traz informações sobre riscos climáticos físicos. Existe porém uma dificuldade informacional muito grande quanto a riscos climáticos de transição. Outro desafio fundamental é encontrar informações sobre emissões do escopo 3.
Além disso, há desafios de proporcionalidade de acordo com o porte das empresas (por exemplo: blue caps X small caps).
Fabro Steibel, do Instituto Tecnologia e Sustentabilidade (ITS), pontuou que tecnologias estão atreladas a valores e que a tecnologia tem capacidade de fazer fluir informações e de reduzir custos de processamento de transações. Blockchain é um exemplo de grande impacto.
O quinto painel foi “Escalando Finanças para a Transição: Planos de Transição e Transição Justa”. Nele, Kate Ryan, da E3G, discorreu sobre a Transition Plan Taskforce do Reino Unido, que teve como co-chairs o Ministério das Finanças e a gestora de investimentos Aviva. Planos de Transição, explica ela, são ferramentas estratégicas para viabilizar finanças de transição, sendo que alinhamento internacional é uma questão-chave. Os padrões S1 e S2 do ISSB foram considerados como ponto de partida. Kate também apresentou os cinco elementos que formam a base do que deve ser divulgado em um Plano de Transição confiável: 1) fundamentos – sua ambição estratégica e impactos de alto nível em seu modelo de negócios sobre a transição para uma economia resiliente e de baixas emissões, ao mesmo tempo em que considera os impactos e as dependências da natureza e das pessoas; 2) estratégia de implementação – ações concretas e de curto prazo para atingir a ambição estratégica delineada; 3) estratégia de engajamento – como uma entidade está engajando com sua cadeia de valor, o setor em que atua e o governo para apoiar sua transição; 4) métricas e metas –indicadores-chave de desempenho” de um plano de transição, para impulsionar, monitorar e demonstrar o progresso; e 5) governança – como a estratégia de transição foi incorporada à governança e a outras estruturas.
Márcia Groszmann, do BID Invest, lembrou que o grupo BID atua em 26 países da América Latina e Caribe, e que fez recente mudança no plano estratégico, com foco em projetos de maior potencial de impacto e escalabilidade (mudança de “buy and hold” para “originate and share”). O BID LAB, por exemplo, investe em start-ups e empresas em estágio inicial. Ela vê como principais desafios para a transição climática: infraestrutura sustentável; atração de capital privado e capacitação. Ela vê necessidade de aumentar as emissões de “transition bonds”. Além disso, mercados emergentes possuem desafios adicionais para ampliar sua base de investidores: rating de risco não é adequado (agências multilaterais costumam entrar como garantidores) e há riscos cambiais altos.
Rosana Santos, Diretora Executiva do Instituto E+ de Transição Energética e Transformação Industrial, pontuou que existe um caminho muito tortuoso para fazer os recursos financeiros para a transição climática chegarem aonde eles são necessários, sendo necessários padrões e certificações confiáveis. Ela salientou também a importância de descarbonizar a indústria.
José Fernández, do IFC, defendeu a necessidade de financiamento também para pequenas e médias empresas (por exemplo, para eficiência energética). O representante do BNDES lembrou que esse é o maior financiador de energia renovável no mundo e, entre outras iniciativas, começou a financiar a descarbonização da logística de transporte.
O sexto painel, por fim, tratou de Conservação e regeneração da Biodiversidade. Destacou-se a fala de Joana Chiavari, Diretora de Pesquisas da CPI, que esclareceu que o financiamento de soluções climáticas baseadas na natureza está muito aquém do potencial do setor de reduzir em um terço as emissões GEE. Esse tipo de solução deve ter 3 focos: conservação, restauração e reflorestamento. As fontes de financiamento no Brasil são:86% domésticas, sendo que 48% são recursos privados (quase tudo títulos temáticos do setor de papel e celulose), mas o orçamento federal também é uma fonte relevante (21%). As agências multilaterais e Fundo Amazônia financiam sobretudo regularização ambiental e fundiária; pequenos agricultores e comunidades tradicionais. A participação das IFDs nacionais ainda é muito pequena. Há baixa transparência, no geral, em relação à destinação dos recursos. Ela defendeu como uma medida essencial a necessidade de elevar o custo do carbono (há estudo do CPI a respeito dos efeitos positivos que isso teria no setor agrícola).
Além de Luciane Moessa, o Diretor de Comunicação e Relações Institucionais da SIS, Daniel Araújo, também esteve presente ao evento. Ambos tiveram encontros e conversas importantes, como com Matias Cardomingo, do Ministério da Fazenda, Denise Hills, membro do Conselho Estratégico da SIS, Enrico Riva, que atua na supervisão em tema de Sustentabilidade no Banco Central do Brasil, Christine Majowski, Diretora do FiBraS, da GIZ, Rebeca Lima, do CDP, Débora Masullo, da Frankfurt School, Marcelo Billi, da ANBIMA, além das equipes do iCS e do IFS, entre muitos outros.