No dia 9 de junho, a SIS contribuiu com duas apresentações na reunião do GT Gestão de Risco ASG e Transparência do LAB – Laboratório de Inovação Financeira, think tank brasileiro para promoção das Finanças Sustentáveis, fruto de parceria entre a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e, desde 2019, a agência de cooperação internacional alemã GIZ.
A primeira fala, pela fundadora da SIS, Luciane Moessa, abordou “Taskforce on Nature-related Financial Disclosures (TNFD): por que ela importa para o Brasil?”, explicando que a TNFD busca construir um padrão para mensuração de impactos (positivos ou negativos) e exposição a riscos de degradação da biodiversidade (flora e fauna)/ capital natural (ar, solo, água doce e oceanos). A finalidade é integrar tais conclusões aos processos de decisão no setor financeiro e no mundo corporativo, por exemplo, definindo e implementando metas para mitigação de riscos e, ainda, aumentando fluxos financeiros para conservação e restauração de ecossistemas de forma lucrativa. Ela salientou como é preciso expandir o enfoque das Finanças Verdes para além dos riscos climáticos, sendo que, no caso brasileiro, esses estão diretamente imbricados aos de biodiversidade, já que o desmatamento é a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Ela salientou os pontos que a TNFD agrega à TCFD (que tinha escopo mais restrito) desde o relatório do Grupo Técnico de Especialistas do qual ela participou em 2020/2021 que propôs o escopo técnico para a TNFD: além do conceito de riscos físicos e de transição, o conceito de riscos sistêmicos, a noção de dupla materialidade (em oposição à materialidade meramente financeira) e o conceito de impactos (positivos e negativos). Além disso, a TNFD deixa claro que o local das atividades econômicas e projetos precisa ser considerado (tal como ocorre com os riscos climáticos físicos).
Ela também explicou o histórico e a estrutura de governança da TNFD, apresentando os membros do Grupo de Trabalho (com destaque para as empresas brasileiras Suzano e Natura), e o Fórum, que conta com mais de 400 membros (governos, reguladores e instituições financeiras, corporações, organismos internacionais e organizações da sociedade civil) e permanece aberto ao ingresso de novos membros. As instituições brasileiras que atualmente o integram são, além da SIS, o CEBDS, Fama Investimentos, BNDES, SUSEP e BTG Pactual. A primeira versão do framework com recomendações sobre a gestão de riscos e impactos negativos e geração de impactos positivos à biodiversidade/capital natural foi lançada em março e a segunda está prevista para 28 de junho, sendo que ele está permanentemente aberto a consulta pública, com vistas à preparação da versão final para o segundo semestre de 2023. Ela também recomendou a todos que visitem o “Knowledge Bank” no site da TNFD (tnfd.global) e informou que recentemente estão sendo criados Grupos Consultivos Nacionais da TNFD e que um deles pode ser criado no Brasil, desde que alguma instituição se proponha a liderar o diálogo. Ela também sugeriu que o LAB seja membro do Fórum da TNFD e salientou que, agora em junho, algumas instituições financeiras e corporações estão começando a testar o framework da TNFD em fase piloto. Para ver toda a apresentação, clique Apresentação LAB junho 2022.
Na sequência, o consultor parceiro da SIS, Marcio Gama, desenvolveu o tema Blue Finance, apresentando perspectivas e oportunidades da Economia Azul, que visa ao equilíbrio entre atividades econômicas e a capacidade de longo prazo dos oceanos para suportá-las, permanecendo resilientes e saudáveis, considerando a limitação dos recursos naturais planetários. O IFC – Grupo Banco Mundial, por exemplo, recentemente lançou Diretrizes para Finanças Azuis, sendo que, no cenário global, têm se reconhecido os Blue Bonds como subcategoria dos já conhecidos Green Bonds. Marcio apresentou um estudo de caso das Ilhas Seychelles, que emitiu blue bonds soberanos em 2018, com objetivo de financiar soluções para a superexploração de recursos pesqueiros e a poluição marítima no país. Ele destacou, com diversos dados concretos, a relevância do desenvolvimento de uma Economia Azul para o Brasil e potenciais aplicabilidades nas cidades costeiras brasileiras (inclusive para adaptação às mudanças climáticas); e destacou a necessidade de integração das demandas financeiras com as políticas ambientais do país. Marcio enfatizou, ainda, a importância da governança ambiental, na medida em que negligenciar tal tema resulta em impacto negativo à reputação de países no mercado global e diminuição da atratividade ao capital estrangeiro. Para ver toda a apresentação de Marcio Gama, clique Apresentação Marcio LAB – Blue Economy.
A reunião contou com a participação de quase 40 representantes de instituições integrantes do LAB, como Banco Central do Brasil, UNEP-FI, Instituto Igarapé, Resultante ESG, Stocche Forbes, Sul América, CPI/PUC-Rio, I-Care, Cescon & Barrieu, Veirano Advogados, Ekos Brasil e, ainda, com outra consultora parceira da SIS, Fernanda Bianco.