No dia 25 de maio, a SIS promoveu mais um BIS (Bate-papo Inclusivo e Sustentável) da série destinada a debater indicadores-chave de desempenho para setores econômicos com maior relevância/riscos/impactos (ambientais, sociais e econômicos) para o Brasil.
O debate foi mediado pela Diretora Executiva e Técnica da SIS, Luciane Moessa, e contou com a participação de diversos especialistas no tema, como Julio Grillo, que é Vice-Presidente do Fórum Permanente do São Francisco e ex-Superintendente do IBAMA-MG, Paulo de Tarso Castro, Professor Titular de Geologia da Universidade Federal de Ouro Preto, Bruno Serra, consultor sênior em Economia Mineral da SRK Consulting (baseada em Denver, nos EUA), e Sérgio Leitão, Diretor Executivo do Instituto Escolhas.
O evento contou com participação de instituições financeiras como o BID e a Caixa Econômica Federal, organizações do terceiro setor como a Forest & Finance, consultorias ambientais como a NINT, e instituições altamente especializadas, como o Centro de Tecnologia Mineral, da UFRJ, além de jornalistas na área ambiental.
Julio Grillo abordou como os riscos climáticos associados ao aumento na frequência e intensidade das chuvas impactam o setor, implicando no risco de ruptura ou vazamento de resíduos tóxicos de barragens de rejeitos, bem como de escorregamento de pilhas de rejeitos (como no caso recente da Vallourec, em 2022). Ele apresentou ainda informações contidas (p. 62) no último Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central do Brasil, publicado na semana passada, relativas ao volume de chuvas no Brasil:
“O Brasil está sujeito a uma série de desastres meteorológicos e hidrológicos, tais como tempestades, inundações e alagamentos. Esses desastres podem ter grandes impactos sociais, econômicos e fiscais, dependendo da vulnerabilidade, exposição e intensidade/duração do evento. Projeções mostram que, ao longo desta década, as chuvas tenderão a aumentar no oeste da Amazônia e nas regiões Sul e Sudeste do Brasil; as demais regiões provavelmente registrarão chuvas menos intensas. Por volta de 2030, o padrão dominante será uma redução na quantidade total de chuva e no número de dias úmidos na América do Sul tropical, com uma tendência para mais chuvas fortes em regiões como o oeste da Amazônia e regiões Sul e Sudeste do Brasil (Marengo, 2010).”
Ele citou vários exemplos de barragens localizadas em locais em que qualquer chuva nos volumes que têm sido verificados em alguns locais no Brasil e no mundo acarretaria a contaminação de cursos hídricos que comprometeriam o abastecimento de água da população, inclusive na região metropolitana de Belo Horizonte. Veja a apresentação completa de Julio Grillo clicando aqui.
O Professor Doutor Paulo de Tarso Castro abordou a competição entre usos do território e da água entre as atividades de mineração e outros usos, inclusive econômicos, como a produção de bebidas, mas também condomínios residenciais, e ainda a proximidade de unidades de conservação. Ele explicou como em Minas Gerais estão instalados alguns dos maiores minerodutos do mundo, que nada mais são do que tubulações que transportam minério de ferro imerso em água até portos marítimos usando a água extraída de rios, que é então descartada no oceano em condições muito distintas da original, com impactos negativos para a biodiversidade marinha. Ele salientou que alguns desses minerodutos estão em regiões já sujeitas a bastante escassez hídrica. Também mostrou como, apesar de o Pará já ser o maior produtor de metais no Brasil, os riscos ambientais e sociais são muito mais elevados no Quadrilátero Ferrífero se comparados à região dos Carajás, por exemplo, devido ao adensamento populacional muitas vezes maior. Para ver a apresentação completa de Paulo de Tarso, clique aqui.
Bruno Serra apontou indicadores-chave para o setor, abrangendo uso de água, emissões de gases de efeito estufa (incluindo escopo 3, ou seja, emissões de clientes, que são as indústrias siderúrgicas e afins – que é a principal fonte de emissões do setor), gerenciamento de rejeitos e fechamento de minas após o seu esgotamento. Ele apresentou os compromissos voluntários, em termos de redução de emissões e de uso da água, das 5 maiores mineradoras globais em termos de participação no mercado, quais sejam, Glencore, BHP Billiton, Anglo American, Rio Tinto e Vale. Explicou que, por exemplo, apenas uma delas (Rio Tinto) começou a publicar seu balanço hídrico e que a Glencore é a que tem meta mais ambiciosa em termos de redução de emissões (Net Zero em 2050). Ele apontou a pressão de investidores como um dos principais fatores que leva à divulgação dessas metas. Para ver a apresentação completa de Bruno Serra, clique aqui.
Sérgio Leitão trouxe diversas reflexões sobre os reais benefícios econômicos da atividade de mineração face a seus impactos, e como se dá sua repartição, ressaltando como o contexto brasileiro atual traz muita necessidade de diálogo entre governos, empresas e entidades ambientais, de modo a proteger interesses e necessidades que são de toda a sociedade.
Durante o debate, Maria Netto, do BID, pediu mais informações sobre padrões utilizados para relato de emissões GEE pelo setor, Luciane Moessa questionou a adequação da metas divulgadas pelas empresas, se for considerada a linha de base a partir do qual essas metas são estabelecidas, Paulo de Tarso questionou os benefícios socio-econômicos da mineração para Minas Gerais, especialmente se se considerar que o volume de ouro extraído nos séculos 20 e 21, por exemplo, é superior àquele extraído no ciclo do ouro, no período colonial. Bruno apontou que o setor é muito competitivo e que há custos consideráveis para uso de tecnologias ambientais mais avançadas, ao que Luciane pontuou que a margem de lucros do setor indica haver espaço financeiro para suportar esses custos. Ela explicou também que a finalidade de uma Taxonomia Verde é justamente criar incentivos econômicos para essa transição, direcionando mais capital para empresas com melhor desempenho socioambiental e climático.
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